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Carta do dia 28.01.2007

Sobre o artigo "Na contramão da lógica econômica"

Esse artigo :http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5491&language=pt me deixou algumas dúvidas:

1) Confirmem por favor, mas pelo que eu entendi é que o governo não pode usar o dinheiro das reservas internacionais (adquirido nos superávits comerciais) nas suas transações internas. Mas isso não seria resolvida pelo simples câmbio de moeda estrangeira pela nacional?

2) Não entendi também por que dos 9% de juros líquidos que o governo anda pagando aos donos de títulos, 5% vão para as reservas internacionais (por que a relação com os 4% dos juros americanos?)?

3) Como o aumento da dívida pública interna é consequência dos superávits comerciais?

4) E como a derrubada das tarifas e barreira alfandegárias estabeleceria o valor real da taxa de câmbio?


Guilherme Dias Ferreira Silva

Prezado Sr. Guilherme:

Obrigado pelo seu contato.

Lendo com um pouco mais de atenção, o sr. acharia todas as respostas às suas perguntas no próprio texto. Mesmo assim, vou tentar ser um pouco mais didático:

1) Primeiramente, como qualquer outro contrato de natureza mercantil, para que exista uma transação cambial é necessário que haja duas pontas, sempre! Uma compradora e outra vendedora. Enquanto a balança de pagamentos (que inclui a balança comercial, mas não se restringe a ela) for superavitária, sempre haverá mais oferta de moeda estrangeira (vendedores) do que demanda (compradores). A diferença é o “estoque” de divisas, ou reservas. A menos que o senhor esteja sugerindo que o governo compre dólares de si mesmo, mas isto é tão irracional que eu me recuso a comentar.

2) Infelizmente, o sr. parece ter lido o que não está escrito. O que eu escrevi foi que, como comprou aproximadamente US$ 35 bi a mais do que vendeu (valor que foi adicionado à conta de reservas), o governo precisou desembolsar cerca de R$ 75 bi (taxa média de R$2,15/U$1), durante o ano de 2006. Como o “Tesouro Nacional não dispõe de poupança própria em reais (na verdade é deficitário), todo aquele valor teve que ser levantado junto ao mercado financeiro (poupança dos indivíduos e empresas), via aumento da dívida pública interna”. Ora, para cada real obtido no mercado, via emissão de títulos, estima-se que o governo tenha pago, em média e na melhor das hipóteses, 9% de juros líquidos ao ano. Por outro lado, a remuneração obtida nos títulos do tesouro americano - onde é investida grande parte das reservas – foi estimada em 4% ao ano. A diferença entre as taxas de captação e aplicação dos recursos (5% ao ano), é quanto nos está custando essa transferência de poupança para o exterior.

3) Vide resposta anterior.

4) Como qualquer preço negociado livremente no mercado, a taxa de câmbio é regida pela lei da oferta e da demanda. Por essa lei econômica inexorável, sempre que a oferta é maior do que a demanda (e isso vale para qualquer produto, inclusive moedas estrangeiras), o preço cai e vice-versa. Ora, o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de câmbio só acontece no Brasil, hoje em dia, porque o país exporta muito mais do que importa. Isto ocorre não porque o Brasil tenha alguma “vocação” exportadora, ou porque o resto do mundo precise mais dos nossos produtos do que nós dos deles. O imenso superávit comercial só existe por conta de uma infinidade de barreiras alfandegárias às importações, enquanto as exportações são feitas livremente, e até incentivadas. Assim, a maneira mais efetiva e natural de equilibrar oferta e demanda de moeda seria derrubando as barreiras alfandegárias, fato que aumentaria a demanda dos importadores por divisas estrangeiras.

Atenciosamente,

João Luiz Mauad

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