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Cartas do dia 11.08.2005

Painel MSM


Caio Rossi está de parabéns ! O Painel MSM está fenomenal !
E o tapinha no rosto de Dines, no final do artigo, valeu o dia.

Edson Camargo

 

O incrível PT

Prezados:

Sou jornalista e escrevo aqui no jornal O SUL e tenho programa diário na Rádio Pampa AM e comentário político na TV Pampa (Rede Record). Estou perplexo com o PT. O PT levou 25 anos tentando provar que era um partido "diferente, ético, probo". Agora, há 40 dias tenta provar que é igual a todo mundo: caixa dois, contas no exterior.

Durma-se com um "delúbio" desses".

Rogério Mendelski

 

Estatísticas de Peter Hof

Caro Peter Hof

Li seu artigo sobre o desarmamento.

Sua pesquisa embora fundamentada carece de uma simples exigência: uma problematização sobre a sua fonte. Ora, analisar a recorrência midiática de certos eventos reais não implica sua representatividade.

Você não pode partir do pressuposto de que algum veículo de comunicação expresse uma relação direta entre informação e recorrência. A mídia seleciona, de acordo com parâmetros ideológicos (de esquerda, direita, nível de interesse do leitor, assuntos polêmicos, etc) e não estatísticos. Agora, se você me apresentar uma pesquisa baseada em ocorrências policiais, registros de óbitos, etc, já ficaria satisfeito. Fora esse tipo de dado, nada pode ser afirmado.

 Aliás, existem muitas pesquisas analisando todos os critérios citados na sua pesquisa, inclusive comparando dados de diversos países, a diferença está na forma de obtenção de dados. Gostaria que minha opinião fosse publicada, por isso fiz poucas críticas, mas tenho minhas dúvidas quanto ao caráter democrático deste espaço

Eduardo Martinelli

Senhor Eduardo,

Lendo sua mensagem cheia de termos pomposos e vazios (“problematização”, “midiática”, "recorrência") lembrei-me logo de Marilena Chauí e outros pedantes da chamada intelectualidade USPiana.

Antes de passar às respostas gostaria de esclarecer algumas coisas: durante 10 anos fui gerente de pesquisas de duas grandes multinacionais, sendo uma a maior fabricante mundial de refrigerantes. Sou sócio fundador da Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado, ex-membro da ESOMAR e fui professor de análise e interpretação de pesquisa de mercado. Portanto, sem falsa modéstia, conheço bem o assunto.

Uma das coisas que aprendi na vida é que o ótimo é inimigo do bom. Como escrevi em um dos meus artigos, a informação aberta por tipo de crime ou “não existe” ou é bem sonegada pelos antiarmas, que não querem que venha a público O NÚMERO DE MORTES POR TIPO DE OCORRÊNCIA. Nos últimos vinte meses, na tentativa de chegar aos números abertos, escrevi a ONGs (Viva Rio, Sou da Paz), ao presidente do Senado, a inúmeros deputados, jornais, enfim, qualquer organização que pudesse esclarecer o assunto. JAMAIS OBTIVE RESPOSTA! E a razão é muito clara: aos antiarmas não interessa mostrar este número porque isso poria por terra suas absurdas declarações. Assim, não podendo dispor do “ótimo”, e querendo dar minha contribuição para elucidar o assunto, resolvi partir para o “bom”.

Apesar da relevância do assunto Desarmamento, nunca consegui encontrar na mídia a estatística aberta na forma como a estou apresentando. Quanto a comparações com pesquisas feitas no exterior, tudo o que conheço é uma pesquisa da UNESCO, parcialmente publicada em O GLOBO (06/05/05, pág. 11), que abre os eventos apenas por: Acidentes, Homicídios, Indeterminados e Suicídios.  O melhor trabalho que me chegou às mãos nos últimos dois anos foi realizado pela Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Um bom trabalho, mas que não desce ao grau de detalhamento realizado por mim por uma razão muito simples: esses relatórios oficiais são feitos com uma orientação e objetivo (prevenção do crime e definição estratégica das ações) diferentes do meu.

Sem querer desmerecer o trabalho da SSP/SP, sugiro-lhe que leia a matéria de capa da Folha de 17/01/05, intitulada Falha distorce dados de homicídios. Lá, os repórteres Gilmar Penteado e Alexandre Hisayasu abriram a referida matéria com a seguinte frase: “Erros nos boletins de ocorrência distorcem as estatísticas sobre homicídios no Estado de São Paulo e colocam em xeque a queda registrada no governo de Geraldo Alckmin.” A matéria mostra como os boletins de ocorrência são erroneamente preenchidos e afirmam: “A falha mais comum (grifo meu) ocorre no campo sobre a natureza do crime”. Portanto, senhor Eduardo, não será com dados policiais que o senhor vai satisfazer sua admirável exigência por precisão estatística, nem em números totais, e muito menos na forma de abertura dos dados como estou propondo.

Em minha matéria: DESARMAMENTO, ABRINDO UMA CAIXA PRETA, escrevi: Ficarei extremamente feliz caso alguém se disponha a apresentar tal pesquisa com um maior rigor estatístico. Sabe quantas respostas sugerindo fontes alternativas de dados eu recebi, senhor Eduardo? NENHUMA!

Ao contrário do que o senhor afirma,  a técnica de clipping é válida para este tipo de análise, sim. Por incontáveis vezes em minha vida profissional utilizei dessa técnica para avaliar eventos. A prova da adequação desse método é que o jornal Folha de São Paulo (24/4/05, pág. E3) fez uso dele para medir a importância da cobertura dada pela mídia americana no caso Michael Jackson. Além disso o jornal O Globo do Rio de Janeiro em matéria sobre balas perdidas, publicada no dia 07/08/05, pág. 29 escreve: “As maiores vítimas, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO sobre reportagens publicadas nos principais jornais...”. Como o senhor pode observar, se estou errado, estou errado em boa companhia...

Também discordo quando o senhor diz que não existe relação direta entre os eventos ocorridos e sua publicação na mídia. Isso talvez se aplique a assuntos políticos, ou quando o levantamento se resume a um curto período de tempo. Mas daí a imaginar que em outras matérias não exista representatividade é uma forma muito superficial de avaliar certos fatos. Até hoje, decorridos 142 dias (de um total programado de 180) de pesquisa, e tendo registrado 503 homicídios, o que significa 16% do total de mortes por armas de fogo na região do Grande Rio, estou bastante seguro quanto à significância estatística do trabalho. Apenas para sua informação, em pesquisas como a da UNESCO supra mencionada, a amostra na pesquisa sobre armas nas escolas foi de 0,6% (zero virgula seis) do universo alvo. No meu caso a amostra é 267 vezes maior do que a usada por aquele organismo internacional. Como a estratificação é bastante simples (duas categorias e 16 tipos de eventos) a confiabilidade da amostra é extremamente alta.

Escolhi o jornal carioca O Dia como fonte de minha pesquisa por sua tradição de décadas em cobertura policial.  Concluir que um veículo de informação com essa história, não publica mortes no trânsito, em bares ou em estádios, ou qualquer outro tipo de homicídio por “parâmetros ideológicos” é um raciocínio muito primário.

Gostaria de encerrar fazendo-lhe uma proposta: Mostre-me esses dados, abertos da forma como estou fazendo, com fontes diferentes e fidedignas, e eu me comprometo a  publicar a matéria neste site, dando ao senhor os devidos créditos.

Peter Hof

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