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Cartas do dia 25/04/2005

"Nem os Santos condenaram"

Queria fazer alguns comentários sobre o artigo Nem os santos condenaram do sr. Janer Cristaldo :

1. Contrário ao que diz no segundo parágrafo, o samsara budista não é o inferno ; é apenas a sucessão indefinida das vidas e das mortes, das reincarnações (por exemplo, todos nós que vivimos atualmente estamos no samsara).

2. O sr.Cristaldo acredita na superioridade da opressão hipócrita (as ditaduras modernas) sobre a opressão franca (a Inquisição). Essa crença não é lógica, e sim puramente sentimental : é bem évidente que a opressão hipócrita comporta todos os males da opressão franca, mais a confusão mental trazida pelo fato de que é proibido constatar a verdade obvia.

No tempo da Inquisição, era possível dizer : "ontem a Inquisição fez queimar X o Y", pois era a coisa mais óbvia do mundo que cada um sabia. Em Cuba, não se pode dizer : "Castro fez torturar X o Y" sem correr o risco de ser torturado também por isso. Portanto, é preciso
persuadir-se que branco é preto, é preciso mentir a si mesmo.

Com certeza a opressão hipócrita cria mais terror e loucura do que a franca.
Ewan Delanoy


Janer Cristaldo novamente


Em mais um texto difamatório a respeito da Igreja, intitulado "Nem os santos condenaram", Janer Cristaldo continua cometendo erros infantis. Primeiro, ele estabelece o ano da criação da Inquisição como sendo 1233. Mas, no final, diz: "Mas, como dizia D. Estevão, nenhum dos santos medievais, nem mesmo o manso Santo Agostinho, levantou a voz contra a Inquisição."

Seria realmente esperar demais que o fizesse, já que Santo Agostinho nasceu em 354.
Bruno Tourinho Raymundo

Meu caro Bruno Tourinho:

Escrever Santo Agostinho foi um evidente lapso de digitação, já que eu me referia à citação de D. Estevão, sobre São Francisco de Assis. Já pedi ao editor para corrigir. Mas quem me induziu ao erro foi D. Estevão, afinal São Francisco morreu antes da instauração da Inquisição, e isto você não viu.

Janer



Sofismas intermináveis


No artigo "Nem os santos condenaram", Janer Cristaldo constrói o seguinte argumento:

'Afirmas que os cátaros constituíam um problema de Estado. Brilhante argumento. Só não sei se notaste que foi o mesmo empregado por tiranos como Stalin ou Mao, Envers Hodja ou Ceaucescu para massacrar seus conterrâneos. Ou, se não quisermos ir mais longe, Fidel Ruz Castro. Os dissidentes dos regimes totalitários sempre constituíram um problema para o Estado, é o que alegam estes senhores, que encarnam o Estado. Assim argumentando, justificas não só a Inquisição como também as tiranias deste século e do século passado.'

Onde está o erro neste argumento? O erro está em não por em evidência as características do termo 'problema de Estado' nos dois casos em questão. Com este artifício, Cristaldo pôde estabelecer uma identidade entre o termo 'problema de Estado' no caso dos cátaros e no dos tiranos socialistas e deduzir que justificar o primeiro por esta via significa justificar também o segundo. No argumento construído por Cristaldo, as alegações de 'problema de Estado' são equivalentes e, portanto, intercambiáveis.

Ora, Marcelo Moura estabeleceu (e não foi contestado) que os cátaros praticavam saques, organizavam tumultos e ataques à Igreja. Portanto, neste caso o termo 'problema de Estado' refere-se a uma situação legítima de uso da lei e da força: a repressão aos ataques à propriedade e à vida alheia praticados pelos cátaros. O uso da força e da lei com este propósito não pode ser considerado um aspecto totalitário e, sob este aspecto específico, os cátaros não podem ser considerados 'dissidentes', como insinuou Cristaldo no trecho em questão. Por outro lado, no caso dos regimes socialistas o termo 'problema de Estado' tem um outro significado. Neste caso, o próprio Estado era a ameaça à propriedade e à vida alheia. Os dissidentes dos regimes socialistas eram um 'problema de Estado' no sentido de que se opunham à utilização ilegítima da força e da lei pelos detentores do poder estatal. Uma vez exposta a diferença entre os dois casos fica claro que a identidade estabelecida por Cristaldo é falsa e que, portanto, a dedução de que aquele que alega 'problema de Estado' para justificar o primeiro caso também justifica o segundo é uma impostura.
Paulo Mello


Anti-protestantismo


Esta é para o leitor Carlos Fernandes.

Ideológico - e talvez invejoso - é o Sr. O catolicismo está em voga graças à morte e eleição do Papa, o maior evento da imprensa mundial de todos os tempos, superando mesmo o 11/09, e o Sr. quer que o MSM fique fora disso? Isso não é "insistência", mas atualidade e coerência com o compromisso deste site, que é mostrar o outro lado, ou os lados que não são mostrados na grande mídia nacional.

Diversas vezes lemos artigos aqui de articulistas protestantes e nenhum católico jamais contestou ou achou que se estava querendo proteger ou engrandecer indevidamente o protestantismo.

As diferenças entre as religiões cristãs são do campo da teologia, não da ideologia. Se o Sr não concorda com o catolicismo ao menos o respeite, pois, como diz o Papa Bento XVI, esta religião é a Mãe de todas as demais cristãs, inclusive a sua.
João Alfredo


Janer Cristaldo e a Igreja


Gostaria de adicionar algo ao que o leitor Bruno Tourinho escreveu: não só Santo Agostinho nasceu 9 séculos antes do início da Inquisição, como São Francisco morreu 7 anos antes (em 1226). Seguindo a linha cronológica de Janer Cristaldo, podemos até dizer que nem São Pedro e os apóstolos condenaram o Santo Ofício. Parece que todo Santo Católico, na lógica de Cristaldo, deve pagar pela Inquisição, mesmo os que morreram antes dela começar.
Guilherme Ayres


Inquisição


Alguém avise ao Janer que Santo Agostinho não tem nada a ver com a Inquisição. Santo Agostinho viveu no século IV, enquanto que a Inquisição iniciou-se no século XIII.

Também que Santa Joana d'Arc não foi condenada por um tribunal da Inquisição, e sim por um tribunal estabelecido pelos ingleses com o propósito de condená-la.

E também que os historiadores nos dizem que os inquisidores utilizavam-se bem menos da tortura do que os costumes da época:

"As fontes [históricas] demonstram muito claramente que a Inquisição recorria à tortura muito raramente. O especialista Bartolomé Benassa, que se ocupou da Inquisição mais dura, a espanhola, fala de um uso da tortura "relativamente pouco frequente e geralmente moderado, era o recurso à pena capital, excepcional depois do ano 1500".

O fato é que os inquisidores não acreditavam na eficácia da tortura. Os manuais para inquisidores convidavam a que se desconfiasse dela, porque os fracos, sob tortura, confessariam qualquer coisa, e nela os "duros" teriam persistido facilmente. Ora, porque quem resistia à tortura sem confessar era automaticamente solto, vai de si que como meio de prova a tortura era pouco útil. Não só. A confissão obtida sob tortura devia ser confirmada por escrito pelo imputado posteriormente, sem tortura (somente assim as eventuais admissões de culpa podiam ser levadas a juízo). (Rino Camilleri, 'La Vera Storia dell Inquisizione', Ed Piemme, Casale Monferrato, 2.001, p.p. 46-47 apud Orlando Fedeli in

http://www.montfort.org.br/perguntas/vaticano_inquisicao.html).

Enfim! Entre os juízos dos contemporâneos (como São Francisco) e dos historiadores atuais sobre a Inquisição, e as opiniões do sr. Cristaldo, não vejo razão para que estas sejam tomadas como mais próximas da verdade do que aqueles.
Jorge Ferraz

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