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Carta do dia 04.03.2005

Cartas sobre o Papa e comentário sobre weber
enviada em 04/03/2005

CAROS REDATORES,

ACHEI esta carta O sofrimento do Papa de Bruno T. Raymundo, de longe a mais inteligente, por que ela expressa o que, no meu entender, é o MSM. Dentro de certos princípios que norteiam o site, mostra que há debate e não imposição. Claro que para tanto, o autor tem que acatar com alguns princípios (se não quiser há outros sites na net), mas que é possível e viável a boa discussão.

Para mim, parabéns tanto ao Janer quanto ao Marcelo. Aprendi com os dois e ainda tenho que estudar para ter uma visão própria. Mas, o que vejo é isto: a possibilidade de entender o mundo fora dos cânones marxistas e socialistas.

Eu, p.ex., não corroboro com a opinião do Nivaldo sobre Weber. O sociólogo alemão tinha idéias liberais, mas seu principal ofício não era de um político, mas acadêmico. Desta forma, sua análise de como o capitalismo se formou é, para mim, verdadeira. E, embora ainda não tenha lido Peyreffite (tarefa que me impus a fazer para logo), acredito que ele tenha partido do próprio Weber. Sei que tenho que ler, mas pelo que sei, não vejo antagonismos entre suas idéias.

Assim como os marxistas são piores que Marx (embora eu não tenha nenhum apreço por Marx...), há professores weberianos que desdenham do catolicismo achando que a única solução para um país como o Brasil teria sido ser colonizado pelos ingleses... isto não foi o objetivo de Weber.

Giannetti também não é para ser jogado fora. Tenho inclusive um artigo do economista que defende a ação americana no Iraque e faz um comentário bem equilibrado sobre os EUA defendendo sua hegemonia. Sei que não foi esta a crítica de Nivaldo, mas Giannetti não é um "vaselina" como o Magnoli ou um ideólogo louco como Sader.

Saudações.
Anselmo Heidrich





Resposta para a articulista do Globo Tereza Cruvinel
enviada em 04/03/2005

Prezada Sra. Cruvinel,

Referir-me-ei ao texto exposto abaixo em sua coluna, publicada no dia 04/03/2005:

"A aprovação final pela Câmara das pesquisas com células-tronco embrionárias foi uma vitória da pressão social organizada. Da luz sobre o obscurantismo."

Por que classificar de obscurantista a opinião contrária à liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias?

Que a senhora concorde e creia que tal tipo de procedimento científico é válido, aceita-se, como também é plenamente justificável, segundo a moral, a posição de setores da sociedade, capitaneados pela igreja católica, contra a liberação da pesquisa com fetos humanos.

Onde começa a vida? Em que momento podemos classificar um feto como um ser humano? Até que ponto uma vida (em formação) é mais importante do que uma vida presente? Podemos dizer que uma vida valha outra, ou que uma é mais importante do que outra? Ainda que sejam disponibilizados para a pesquisa somente fetos congelados há mais de três anos, eles são seres humanos, mantidos em animação suspensa ou não, são somente um amontoado amorfo de células?

A doutrina dogmática da Igreja Católica expõe que o milagre da vida inicia-se no momento da concepção, na fusão do óvulo com o espermatozóide, neste momento temos um ser em gestação, uma alma; segundo este ponto de vista a destruição destes seres humanos não passa de assassinato, frio e premeditado, contra alguém que nem ao menos é capaz de se defender.

Assusta-me como a classificação "obscurantista" é claramente exposta, obviamente com o intuito de denegrir, menoscabar e exprimir repulsa a uma posição que reflete a base de nossa tradição judaico-cristã.

Este é um debate que envolve muito mais do que a votação no Congresso, é um debate que deveria se estender a toda a sociedade e votado em plesbicito, pois atinge diretamente nossos padrões morais e o sagrado direito à vida, por mais que muitos não se apercebam disso. Quem sabe a derrota dos "obscurantistas" não tenha sido uma vitória de Pirro da "pressão social organizada", que inicia um passo perigoso na direção de se relativizar a importância das vidas, especialmente dos não-nascidos?

Atenciosamente,

Ricardo Duval

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